terça-feira, 1 de outubro de 2019

MAIS 50 ANOS

Aos 37 anos de idade, o en­­tão estudante de teologia Henrique Machado buscou inspiração em um trecho bíblico para ganhar forças contra o maior desafio de sua vida. Em uma de suas passagens preferidas, o profeta Isaías pede em oração mais 15 anos de vida ao rei Ezequias, que havia contraído uma doença. Ele é atendido por Deus. No caso de Machado a vontade de viver falou ainda mais alto. “Pedi em minhas orações mais 50 anos.”

Com mais meio século de vida, o hoje pastor de uma Igreja Batista poderia realizar os sonhos de qualquer pai: ver o pequeno Lucas, de 8 anos, e a adolescente Moni­que, de 12, crescerem, entrarem na faculdade, no mercado de trabalho e formarem suas próprias famílias. Mas o que teve de fazer foi bem diferente do sonho de uma família “feliz para sempre”. “Reuni minha esposa e meus filhos e expliquei que o papai estava com câncer. Disse que entraria em tratamento e que poderia morrer. Foi o momento mais comovente.”

A fé aliada à vontade de viver talvez tenha sido o maior trunfo do pastor nessa batalha que esperava nunca lutar. Em 2007, ele foi surpreendido com o diagnóstico de câncer de intestino. “Sentia fortes dores no abdome. Quando fui ao médico, ele me avisou que teria que operar imediatamente, mas não falou em nenhum momento que era um câncer. Embora a operação fosse delicada, tive coragem e fé. Fiz a cirurgia no mesmo dia.”

E não foi esse seu maior susto. Uma semana depois, Machado descobriu a verdade: havia retirado um tumor maligno de seu intestino. A partir daí, começou uma batalha para eliminar qualquer vestígio da doença. “Tive de fazer quimioterapia por quatro meses, com todo os seus efeitos colaterais. Perdi todo o meu cabelo”, relembra.

Mas se os efeitos físicos eram devastadores, a força espiritual permanecia intacta. “Pergun­tavam-me o tempo todo se eu tinha medo. A resposta era ‘não’. Eu tinha fé na cura, e foi isso que me ajudou. Mas é claro que não esperei de braços cruzados. Junto com as orações, fazia todos os exames médicos. Sou um homem de fé, mas racionalizo bastante”, diz.

Hoje, o tratamento se resume às visitas e exames necessários. Nada muito invasivo, ga­­rante.

Os 50 anos que ele pedia em oração ainda ecoam como uma incerteza. Para ser considerado totalmente curado, é preciso superar um período de cinco anos sem a reincidência da doença. Ele sabe que ainda não está livre. Faltam dois anos. Mas a primeira batalha, venceu. E a lição mais valiosa já aprendeu. “Sou muito agradecido por esses quase três anos que ganhei. Se Deus quiser me dar mais um ano ou mais cem, isso já não vai fazer a diferença. Vou vivê-los da mesma forma, com a mesma alegria e gratidão.”

Fonte: Gazeta do povo

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