Era um homem bondoso o cura de La Roudaire, cidadezinha francesa de Bourg-em-Forêt. Atento à necessidade de seus paroquianos velava em particular pelos pobres e desprotegidos.
Entre os necessitados havia dois irmãos infelizes: uma jovem cuja vida fora desviada do seu curso de pureza graças a impiedade humana e um moçço doentio que, sem a assistência da irmã, órfãos ambos, abandonado ele à sua pobreza e miséria, enquanto ela estivera na prisão, ficara corcunda.
Desprezado por todos, perambulava o corcunda pelas vielas escuras da cidade quando, uma noie, um grupo de jovens bêbados o tomou para suas brincadeiras de mau gosto, que culminaram em deixá-lo amarrado a um poste de iluminação. O bondoso padre, passando e vendo, tirou-o dali e levou para tratar suas feridas. Pouco depois, no entanto, as águas do rio recebiam o seu corpo e o sepultavam na morte. Suicidara-se. A mesma sorte era reservada à sua irmã que, desanimada e abatida, golpeada pelo que sucedera ao irmão, suicidava-se no mesmo dia.
Marcada a hora do enterro, as casas de comércio cerravam as portas para que todos pudessem assistir à cerimônia fúnebre. Templo cheio. O cura subiu ao púlpito. Ali estavam, no meio da igreja, cercados de gente, reinava o silêncio!
E o cura começou:
-- Cristãos!
A palavra soara como uma chicotada. E, de novo:
-- Cristãos! Quando, no Dia Final, o Senhor me perguntar: “Pastor de La Roudaire, onde estão as tuas ovelhas?” não lhe responderei. Nem mesmo que me pergunte segunda vez. Mas se terceira vez Ele me fizer a mesma pergunta, eu, coberto de vergonha, responderei humilde: Não eram ovelhas, Senhor; eram lobos famintos.
(Extraído de VASSÃO, Amantino Adorno. Esteiras de Luz. Rio de Janeiro: Juerp, 1971.)
"lobos famintos", que não se importam com a desgraça alheia.
ResponderExcluirQue triste história !! Uma tragédia que, infelizmente, nos revela o quanto temos sido maus com nosso semelhante.
Que o nosso Bom Deus tenha misericórida de todos nós e nos dê um coração que nos incite a praticar a caridade.