A
classe de aula estava inquieta por causa do novo aluno. Desde o momento
em que tinha chegado tomou seu acento e lá permaneceu sem falar com
ninguém. Os colegas o olhavam com estranheza e cochichavam entre si. A
professora buscava acalmar os comentários para que o novo aluno não se
sentisse mal mediante a reação das outras crianças.
Estava
quase na hora do intervalo, e na classe a professora propôs que os
alunos lessem alternadamente um texto do livro de Português. Houve um
estrondo de carteiras quando o novato tomou a leitura, para espanto da
professora. As outras crianças queriam assistir seu desempenho, e
bruscamente se viraram para observá-lo.
Risos
e cochichos tomaram a sala. Com dificuldade o menino novato lia os
parágrafos e a cada erro que cometia se abaixava mais um pouco na
cadeira, sentindo um constrangimento sem tamanho.
Não
faltaram broncas para a turma por parte da professora, que foi
interrompida pelo sinal do intervalo e a multidão de alunos apressados
para tomarem o lanche. E no caminho, debochavam do desempenho do novo
colega. – É um burro mesmo, um deles falou mais alto.
O
aluno novo baixou os olhos e fez força para não chorar. A professora
tentou consolá-lo dizendo que não tinha problema ele ter dificuldades na
leitura ou estar nervoso naquele momento por ser o primeiro dia de
aula, pois ele ia aprender e melhorar.
Só
quando a professora saiu da classe ele pôde ver que não estava sozinho.
Um menino do outro lado da classe o encarava. Ele estranhou. Agora
caminhava em sua direção. Parecia vir em paz.
- Eu sei por que você não conseguiu ler o texto.
O
novato estalou os olhos com a declaração daquele menino, e ficou ainda
mais surpreso ao vê-lo levar as mãos ao rosto, tirar seus óculos e
estendê-los em sua direção.
- Se tivesse pedido, eu teria te emprestado. Eu também vejo as palavras embaçadas e misturadas quando tento ler sem os óculos.
Imediatamente
um sorriso de alívio e gratidão surgiu no rosto do aluno novo,
contagiando o seu mais novo amigo que lhe retribuiu o sorriso sem
esforço. Nem fazia ideia de como seu gesto estava sendo importante para o
menino novato; todo o tempo ele tinha ficado constrangido pela falta
dos óculos que acabou por esquecer em casa na pressa de não perder o
horário da escola.
.
.
Que coisa
valiosa é a compreensão! Um pequeno momento com ela causa impactos
positivos com dimensões futuras e eternas. Mas infelizmente, é tão pouco
oferecida! Vive sufocada no interior dos que só se importam com seus
próprios prazeres.
.
.
Quantas
pessoas ao nosso redor só necessitam de um pouco de compreensão para
progredirem, se transformarem, saírem do lugar ou da dor em que se
estacionaram… Como tem sido nosso desempenho para com elas? Quem sabe
até nós estejamos precisando da compreensão dos que vivem ao nosso lado,
e tristemente só temos encontrado o oposto.
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