Um dia, o árabe Daher, disfarçando-se, cobriu o rosto de cinzas e vestiu-se de farrapos e colocou-se à beira do caminho por onde havia de passar o sheik montado em seu magnífico animal.
Ao ver que Samir se aproximava, implorou Daher, com voz disfarçada – triste e sucumbida:
-”Ajuda a este infeliz peregrino! Há três dias que estou doente e sem forças para sair daqui, em busca de alimento! Socorrei-me, óh generoso sheik, e Deus que está nos céus lhe beneficiará por sua esmola!”
Samir ofereceu-se bondosamente para levá-lo na garupa de seu cavalo. O invejoso, porém, disse assim:
-”Não posso levantar-me, senhor! Não tenho mais forças!”
Comovido diante de tão deplorável miséria, desceu Samir do cavalo e, com grande dificuldade, colocou o falso mendigo sobre a sela de seu animal.
Tão logo se viu sobre o cavalo, o impostor o esporeou e afastou-se, dizendo:
- “Sou Daher! Tenho agora este cavalo em meu poder! Vou levá-lo para minha tenda, quer queiras, quer não!”
Samir, então, pediu-lhe que parasse por um momento, pois queria solicitar-lhe apenas um favor.
O ladrão, certo de que não poderia ser perseguido nem agarrado, se deteve para ouvir o que o outro tinha a dizer.
-”Você se apoderou do meu cavalo e desejo que o mesmo te sirva bem. Entretanto eu te peço que não contes a ninguém a forma pouco digna pela qual o obtiveste.”
-”E por que não?” – disse Daher.
-” A razão é simples” – explicou o sheik. “Pode acontecer que outro homem, encontrando-se doente de verdade, se veja forçado, algum dia, a pedir auxílio e o viajante venha a desconfiar do infeliz e lhe negue assistência e esmola. Serás a causa de que muitos se abstenham de praticar a caridade pelo medo de uma traição.”
Tocado no coração, envergonhou-se Daher ao ouvir essas palavras e, inspirado pelo arrependimento, desceu do cavalo e devolveu-o ao seu legítimo dono. Samir, que era um homem bondoso e sábio, convidou-o a ir até a sua tenda, onde o hospedou por vários dias e do ocorrido nasceu uma amizade que lhes durou por toda a vida.
(Conto extraído do livro “Lendas do Céu e da Terra”, do escritor brasileiro Malba Tahan)
PROVÉRBIOS 3.28
ResponderExcluirNão diga ao seu próximo: "Volte amanhã, e eu lhe darei algo", se pode ajudá-lo hoje.