Era meia-noite quando abandonou a mesa de jogo e tinha perdido toda sua fortuna. Instintivamente tomou o caminho de casa. A cabeça lhe ardia e um enorme peso lhe esmagava o cérebro. Pensou em sua família, em sua esposa que naquela hora da noite deveria esperá-lo, tremendo de frio, aflita, junto ao berço do filhinho adormecido.
"Que lhe daria?" pensava ele enquanto percorria o caminho para casa. Ao chegar, com mão trêmula pôs a chave na fechadura e tremeu ainda ao escutar o ruído da porta, semelhante a um gemido.
A voz do remorso se fez ouvir em sua consciência, num grito plangente e sentiu como se um punhal lhe atravessasse as entranhas.
– Era você? - perguntou-lhe a esposa e no mesmo instante, reconhecendo-o, ela o abraça e o beija.
– Repara! Que coisa horrível! Estive pensando que você tinha perdido tudo e que já não tínhamos um cantinho onde colocar o berço do nosso filho... Que tolice, não é verdade?...
E ela lhe dizia tudo isso com o olhar fixo no seu, estendendo-lhe as mãos, feliz pela sua presença.
– E, se fosse verdade? - ele responde em tom frio e seco como o daquele que, reconhecendo suas faltas, procura fugir ao castigo, fazendo sentir a superioridade de suas forças materiais.
A mulher permaneceu com os olhos muito abertos, quase pasmada, porque havia pressentido que uma desgraça iria alcançá-los. Logo, porém, com uma mão apoiada no berço do filhinho, disse: "Que importa? Uma mulher sempre encontra algo para alimentar seu filho."
Havia tanta autoridade em sua atitude, tanta resolução em seu semblante, que o miserável esposo, caindo de joelhos, exclamou, com lágrimas nos olhos: "Perdoe-me"
Desde esse dia Tomas foi o melhor dos esposos e o mais honrado dos homens. Vencido pela atitude de uma mãe - a mãe de seu filho -, não quis ser menos do que ela. E, infatigável no trabalho, recuperou a fortuna perdida.
León Tolstoi
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