quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

"NÃO QUERIA SABER DE MORRER"

Um grupo de estudantes estava reunido na sala de anatomia de certa Faculdade de Medicina. Tinham uma pequena folga; e, rindo, discutiam os casos do dia. Os despojos humanos diante de si não afetavam sua jovialidade. Não lhes ocorria que também eles em breve poderiam ser cadáveres tão inanimados e impotentes como o que tinham para dissecar.

O mais notável do grupo era o Costa. O mais folgazão de todos. As caçoadas que lhe irrompiam dos lábios vinham entremeadas de nomes vãos e expressões injuriosas à Majestade divina. Os colegas não lhe faziam a mais leve observação para que refreasse sua linguagem. Completamente indiferente ao pecado em que incorria, encostou-se à parede com a agulha, já usada na dissecação do cadáver, presa descuidadamente no avental. A prosa foi-se animando, surgindo uma discussão sobre um assunto qualquer em que ele tomava parte saliente.

Estando a falar apaixonadamente, levantou a mão bruscamente para fazer um gesto, e, ao assim fazer, aconteceu ferir a mão na ponta da agulha, a qual lhe abriu fundo arranhão. Um silêncio profundo se fez na sala; todos empalideceram. "Olhe, Costa, isso é muito perigoso!", observou-lhe então gravemente um dos colegas. "Bem sei que é!", confirmou ele assustado. "Que devo fazer?"

"Vamos imediatamente procurar o médico", disseram os companheiros; e como um relâmpago partiram a buscá-lo. Foi um momento de ansiedade terrível enquanto aguardava o prognóstico, que foi logo dado.

O Costa sabia agora que a morte inexorável o fulminaria irremediavelmente em menos de 24 horas. Toda a ciência do mundo não lhe podia valer. Grande desespero e terror se apoderaram do Costa tão logo se viu frente a frente com a inesperada morte. Não nos atrevemos a relatar os horrores que se passaram dele até soltar o derradeiro suspiro. Podemos apenas repetir as palavras de um seu colega, testemunha de suas últimas horas: Foi um quadro pavoroso quando se viu desenganado, porque nem por nada queria saber de morrer. – Guia do Viajante.

Fonte:http://www.iasdemfoco.net

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