terça-feira, 6 de julho de 2021

RECONCILIAR

Numa grande fábrica, um engenheiro e um operário discutiram seriamente e se tornaram inimigos. Em consequência o engenheiro proibiu o operário de entrar em seu escritório, dizendo que se ele atravessasse a porta um centímetro sequer teria de que se arrepender. Acontece que na mesma fábrica trabalhava um gerente especialista em "reconciliar homens". 

O diretor chamou-o e, dizendo não querer dispensar nem o engenheiro nem o operário, pediu-lhe que interviesse no caso. "Tentarei", foi a resposta. E o reconciliador logo se dirigiu, sorrindo, à sala do engenheiro. 

 — Diga-me - perguntou - que há entre você e o operário?

 — Oh! eu odeio o olhar dele, e se ele atravessar aquela porta ali, dar-lhe-ei uma surra. 

 — Você gostaria então que ele ficasse debaixo de um trem? - perguntou o gerente.

 — Oh! não, nem tanto assim!

 — Ou será que você preferia que ele ficasse cego?

 — Naturalmente que não - respondeu o engenheiro.

 — Não quero prejudicá-lo tanto!

 — Neste caso, gostaria que os filhos dele ficassem com paralisia infantil?

 — Não, não, também não - respondeu o engenheiro, que gostava muito de crianças.

 O gerente sorriu.

 — Bem, eu penso que você não odeia tanto assim o rapaz. Você pensa que o odeia. Agora, por que vocês não se esquecem disso e se tornam amigos?

O engenheiro considerou esta possibilidade, e disse, timidamente, que faria a sua parte, indo até à porta, se o operário fizesse outro tanto. As mesmas perguntas foram feitas ao operário, e tiveram as mesmas respostas. Ainda naquele mesmo dia os dois homens se encontraram e apertaram as mãos, dando fim a briga e tornando-se amigos inseparáveis. 

Este incidente verdadeiro envolve uma grande verdade. O homem que encara o ódio e reconhece suas consequências lógicas e desastrosas só tem um caminho a seguir: ou abandonar a luta ou deixar de ser um verdadeiro homem. O gerente de que falamos levou o engenheiro e o operário a sentirem, por meio de suas perguntas, que realmente não se odiavam de todo. Recuaram diante da hediondez do ódio e preferiram reconciliar-se no ponto em que pensavam ser irreconciliáveis.


Moysés de Sá, em O Jornal Batista.

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