Estimado leitor, há uma história muito antiga na minha memória que, por ser mesmo muito antiga, não faço mais a mínima ideia de como ela se alojou na minha mente. Creio que nem mesmo deva ter acontecido e deve ser mais uma desses episódios que pertencem ao nosso imaginário coletivo. Diz mais ou menos assim.
No fim daquele ano, a turma iria formar-se no antigo Segundo Grau (hoje chamamos de Ensino Médio). Para comemorar, a direção da escola propôs aos formandos que fizessem uma pequena comemoração.
A ideia agradou aos alunos e eles, a fim de terem o dinheiro necessário, estipularam uma pequena quantia a ser paga todo mês e cada formando teria, portanto, direito de convidar algumas pessoas. Somente mesmo os familiares mais próximos e alguns amigos.
Tudo estava indo às mil maravilhas não fosse o fato de uma determinada aluna da turma morrer de vergonha da sua mãe, senhora muito simples, que ganhava a vida lavando roupas para fora. Vez ou outra, até sentia alguma admiração pela mãe e por sua labuta sem fim. Era o dia inteiro colada ao tanque, esfregando roupa por roupa, com o intuito de ter como pagar as contas de casa.
Mas essa admiração não era suficiente para fazer com que a filha se convencesse a estar com a mãe em público e decidiu, então, não contar nada sobre a comemoração. Mas, dependente da mãe como era, como conseguir o dinheiro para fazer parte da colação de grau? Passou a dizer que precisava comprar livros, pois sabia que para isso a mãe não lhe negaria o dinheiro.
O problema é que as despesas com “os livros” foram ficando cada vez mais altas, e a mãe resolveu ir até a escola entender o que estava acontecendo. Afinal de contas, por mais bem intencionada que estivesse, a escola exigira leituras demais e manter tais gastos já era impossível.
Ao chegar, foi recebida pela diretora e foi logo contando a sua história. Para sua surpresa, não havia livro nenhum, e a garota foi chamada à presença de ambas, mãe e diretora, para explicar melhor aquela situação.
Quando a aluna entendeu o que estava acontecendo, não deu conta de manter a farsa e confessou tudo. Disse, na frente da mãe, da vergonha que sentia e que não queria sua presença na festa. A mãe desabou num choro enorme ao constatar que, enquanto trabalha dias e noites, sua filha tramava ir à festa sem a sua companhia. A diretora, estupefata, disse que a mãe, doravante, era sua convidada e que fazia questão absoluta de sua presença. A mãe agradeceu e foi embora.
Desnecessário dizer que, no dia da festa, a mãe não compareceu. Amava tanto a filha que preferiu sofrer o desgosto de não a ver se formar a ser um incômodo para ela. Mãe é assim mesmo: é capaz de amar até mesmo quando seu amor não é correspondido.
Senhoras mães, parabéns pelo seu dia!