Um
homem sentado ao lado do caixão daquela que fora sua companheira por
muitos anos, olhava o corpo inerte com o coração amargurado e triste.
Mergulhado
em pensamentos profundos, começou a perceber que em sua mente se
desenhavam formas belas e brilhantes, leves e agradáveis que lhe traziam
alento ao coração.
Diante de tanta beleza ousou perguntar quem eram aquelas formas. Elas lhe responderam que eram as palavras que ele poderia ter dito à esposa.
–
Ah, fiquem comigo! - implorou o homem. Apesar de cortarem meu coração
como um punhal, fiquem comigo, pois agora ela está fria e eu estou me
sentindo tão sozinho.
Mas elas responderam com firmeza: "Não,
não podemos ficar porque não temos existência. Somos apenas luz que
nunca brilhou. E, dizendo isto, desapareceram de sua tela mental."
O
homem continuou triste e pensativo. De repente, outras formas se lhe
desenharam na consciência. Eram formas terríveis, amargas e sem vida.
— Quem são vocês, formas horrendas? Perguntou ele espantado.
— Nós somos as palavras que ela ouviu da sua boca a vida inteira.
O homem gritou estremecido: "Saiam daqui, me deixem só! "
Mas elas permaneceram ali, em silêncio, desenhando-se constantemente em sua memória.
***
Quantos
de nós, desatentos, deixamos passar muitas oportunidades de acender
luzes em nossa consciência, no convívio diário com aqueles a quem
dizemos amar.
As
palavras gentis e belas, as frases bem elaboradas fazem parte do nosso
vocabulário, sim, mas não para os de casa. Raramente nos dirigimos ao
esposo ou esposa, filhos ou demais familiares, com o mesmo respeito com
que nos dirigimos aos amigos, clientes ou colegas de trabalho.
Mas os anos passam... E um dia, também nós estaremos diante do caixão de um ser querido que se despede da existência física.
Também
em nossa memória desfilarão as palavras mais proferidas no convívio
diário... Também em nossa mente se desenharão os gestos mais comuns do
cotidiano... E o nosso coração sentirá alegria ou tristeza de
conformidade com as nossas ações mais constantes.
Assim,
comecemos hoje mesmo a tratar nossos entes caros de forma gentil e
carinhosa para que nossas palavras não nos tragam amargura e remorso
amanhã.
Fonte: O livro das virtudes, v. II, de William J. Bennett, ed.Nova Fronteira