De Tahuape, na Nova Zelândia, veio esta formosa história de feliz acontecimento.
A manhã era cinzenta, chuvosa e fria. Nossa heroína se dirigia com passo acelerado para tomar um ônibus. Se o perdesse, chegaria tarde ao seu trabalho. Aproximou-se dela um homem pedindo dinheiro para comer alguma coisa. Um impulso de bondade a induziu a dizer ao desconhecido:
― Moro naquela casa que se vê lá. No refrigerador está o que sobrou de um leitão assado com batatas. Aqui está a chave. Vá e coma. Quando sair, deixe a chave debaixo do tapete no corredor da entrada.
Durante o percurso do ônibus uma ideia a assaltou: "Não havia mulher mais estúpida no mundo".
No entanto, resolveu sobrepor-se a seus temores, ante à convicção de que os seres humanos reagem nobremente a atos de confiança...
Quando chegou em casa, de volta, a mulher se encheu de surpresas. Sim, ali estava a chave, sob o tapete. Abriu a porta e, a duras penas, pôde acreditar no que seus olhos viam. A casa inteira resplandecia de limpeza, tudo estava em seu lugar. Até as vidraças tinham sido lavadas.
No refrigerador encontrou um bilhete com letra grosseira no qual se lia: “Prezada senhorita. Talvez você não consiga compreender nunca o bem tão grande que me fez. Faz alguns dias que saí da penitenciária. Estou em liberdade condicional. Francamente, foram para mim muito duros estes dias. Porém, você me deu o estímulo que me faltava. Um milhão de graças”.
(Extraído de VASSÃO, Amantino Adorno. Esteiras de Luz. Rio de Janeiro: Juerp, 1971.)
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