O diretor chamou-o e, dizendo não querer dispensar nem o engenheiro nem o operário, pediu-lhe que interviesse no caso. "Tentarei", foi a resposta. E o reconciliador logo se dirigiu, sorrindo, à sala do engenheiro.
— Diga-me - perguntou - que há entre você e o operário?
— Oh! eu odeio o olhar dele, e se ele atravessar aquela porta ali, dar-lhe-ei uma surra.
— Você gostaria então que ele ficasse debaixo de um trem? - perguntou o gerente.
— Oh! não, nem tanto assim!
— Ou será que você preferia que ele ficasse cego?
— Naturalmente que não - respondeu o engenheiro.
— Não quero prejudicá-lo tanto!
— Neste caso, gostaria que os filhos dele ficassem com paralisia infantil?
— Não, não, também não - respondeu o engenheiro, que gostava muito de crianças.
O gerente sorriu.
— Bem, eu penso que você não odeia tanto assim o rapaz. Você pensa que o odeia. Agora, por que vocês não se esquecem disso e se tornam amigos?
O engenheiro considerou esta possibilidade, e disse, timidamente, que faria a sua parte, indo até à porta, se o operário fizesse outro tanto. As mesmas perguntas foram feitas ao operário, e tiveram as mesmas respostas. Ainda naquele mesmo dia os dois homens se encontraram e apertaram as mãos, dando fim a briga e tornando-se amigos inseparáveis.
Este incidente verdadeiro envolve uma grande verdade. O homem que encara o ódio e reconhece suas consequências lógicas e desastrosas só tem um caminho a seguir: ou abandonar a luta ou deixar de ser um verdadeiro homem. O gerente de que falamos levou o engenheiro e o operário a sentirem, por meio de suas perguntas, que realmente não se odiavam de todo. Recuaram diante da hediondez do ódio e preferiram reconciliar-se no ponto em que pensavam ser irreconciliáveis.
Moysés de Sá, em O Jornal Batista.
Nenhum comentário:
Postar um comentário