quinta-feira, 19 de junho de 2014

TERRA DOS BURACOS

Era uma vez uma cidade inteirinha habitada por Buracos. Nenhuma pessoa. Só Buracos.

Os Buracos mais ricos se enfeitavam com amuradas de granito, de mármore ou de azulejos, e os mais pobres, de tijolos ou de cerquinhas de madeira. Havia muita competição entre eles, até que um certo dia um Buraco-Pensador lhes ensinou: O IMPORTANTE É O INTERIOR E NÃO O EXTERIOR!!

E os Buracos começaram a se encher de ouro, prata, jóias, eletrodomésticos, carros, lanchas, etc., a tal ponto que não cabia mais nada. Para solucionar o problema de espaço, começaram a se alargar, mas logo perceberam que se todos fizessem o mesmo, em pouco tempo a cidade iria entrar em guerra civil, pois nenhum buraco queria ser engolido por outro. 

Então, ocorreu a um deles uma solução de como aumentar a capacidade dos Buracos sem que eles precisassem se alargar: - Basta se tornar mais profundo, disse ele, num lampejo de bom senso.

No entanto, para se aprofundar, os Buracos teriam primeiro que se livrar de suas quinquilharias. O mais resolvido deles decidiu tentar. A princípio teve medo do vazio que iria sentir, mas quando conscientizou-se de que não existia outra maneira de solucionar o problema, decidiu abrir mão de tudo que tinha.

Então, uma coisa engraçada aconteceu. Quando voltou a chover na cidade, aquele Buraco que tinha se aprofundado mais que os outros foi capaz de armazenar água por um longo período, ao passo que os demais perdiam-na rapidamente, por serem muito rasos. Então, o Buraco com água começou a ser chamado de Poço. Ele era o único Poço numa terra de Buracos secos. 

Logo muitos também queriam ter água, mas poucos estavam dispostos a se desprender de seus bens materiais. Quando um segundo e um terceiro Buraco também conseguiram se aprofundar e armazena água, aquele cantinho da cidade foi carinhosamente apelidado de OÁSIS.

Os Buracos que não queriam se livrar de seus bens partiram para a zombaria contra os Poços, dizendo que eles tinham água na cabeça, mas, a bem da verdade, em toda a cidade, somente lá no Oásis havia árvores, bichos e passarinhos.

Nós humanos também somo assim, poucos têm a coragem de aprofundar o seu ser, têm medo de se desprender de seu tesouros e acabam ficando seco numa terra de corações vazios.

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